segunda-feira, 14 de abril de 2008

A ordem do caos


... A força terrível e justa que mata eternamente todas aa vidas foi chamada pelos hebreus de Samel; pelos orientais de Satã e pelos latinos de Lúcifer.
O Lúcifer da Cabala não é um anjo maldito e fulminado, é o anjo que ilumina e regenera queimando, é para os anjos de paz, o que o cometa é para as tranquilas estrelas das constelações da primavera
A estrela fixa é bela, radiante e calma; ela respira os celestes aromas, e olha com amor as suas irmãs; vestida com sua roupagem esplêndida e a fronte ornada de diamantes, ela sorri, cantando o seu cântico da manhã e da tarde; goza um repouso eterno que nada poderia lhe perturbar, e caminha solenemente, sem sair do lugar que lhe é determinado entre as sentinelas da luz.
Contudo, o cometa errante, todo ensanguentado e desgrenhado, acorre das profundezas do céu; precipita-se através das esferas tranquilas, como um carro de guerra entre as fileiras de uma procissão de vestais; ousa afrontar as espadas flamejante dos guardas do Sol, e, como uma esposa apaixonada que procura o espôso sonhado pelas suas noites de viuvez, penetra até o tabernáculo do rei dos dias, depois foje, exalando os fogos que o devoram e arrastando após si, um longo incêndio. As estrelas empalidecem ao seu aproximar, os rebanhos constelados que pastam flores de luz nas vastas campinas do céu,parecem fugir do seu sôpro terrível. O grande conselho dos astros se reúne, e a consternação é universal. A mais bela das estrelas fixas é, enfim, encarregada de falar em nome de todo o céu e propôr a paz ao mensageiro vagabundo.
Meu irmão - diz ela - proque pertubas a harmonia das nossas esferas ? Que mal te fizemos e porque, em vez de errar ao acaso, não te fixas no teu lugar na côrte do sol ? Porque não vens cantar conosco o hino da tarde, enfeitado como nós, com uma roupa branca que se prende no peito por um broche de diamantes ? Porque deixas flutuar, através dos vapores da noite, a tua cabeleira, da qual escorre um suor de fogo ? Oh ! se tomasses um lugar entre os filhos do céu, quanto parecerias mais belo ! A tua fronte não ficaria mais inflamada pela fadiga de tua carreira inaudita; teus olhos seriam puros e tua fronte sorridente, seria branca e avermelhada como a de tuas felizes irmãs; todos os astros te conheceriam, e, longe de temer a tua passagem, se alegrariam ao teu aproximar, porque estarias ligado a nós pelos laços indestrutíveis da harmonia universal, e a tua existência seria mais uma voz no cântico do amor infinito.
E o cometa responde à estrela fixa:
Não creais, ó minha irmã, que possa errar ao acaso e perturbar a harmonia das asferas. Deus traçou meu caminho como o teu, e se a minha carreira te parece incerta e vagabunda, é porque os teus raios não poderiam estender-se tão longe para abarcar o contôrno da elipse que me foi dada por carreira. A minha cabeleira inflamada é o fanal de Deus; sou o mensageiro dos sóis e fortaleço-me nos seus fogos para os partilhar no meu caminho aos novos mundos que ainda não tem bastante calor, e aos astros envelhecidos que têm frio na sua solidão, se me fadigo nas minhas longas viagens, se sou de uma beleza menos atrativa do que a tua, se o meu enfeite é menos virginal, não deixo, por isso, de ser como tu, um nobre filho do céu. Deixa-me o segredo do meu destino terrível, deixa-me o espanto que me rodeia, amaldiçoa-me se não podes compreender-me, mas não deixarei, por isso de realizar a obra que me foi imposta e continuarei a minha carreira sobre o impulso do soprô de Deus ! Felizes as estrelas que repousam e que brilham como jovens, na sociedade tranquila dos universos ! Eu sou o proscrito que viaja sempre e tem o infinito por pátria. Acusam-me de incendiar os planetas que aqueço e de aterrorizar os astros que ilumino, censuram-me de perturbar a harmonia dos universos porque não giro ao redor dos seus centros particulares e os prendo uns aos outros, fixando meu olhar no centro único de todos os sóis. Fica, pois sossegada, bela estrela fixa, não quero tirar a tua luz tranquila, pelo contrário, esgotarei por ti a minha vida e o meu calor. Poderei desaparecer do céu quando me tiver consumido; a minha sorte terá sido tão bela ! Sabe ! No templo de Deus ardem fogos diferente que lhe dão glória; tu és a luz dos candelabros de ouro, e eu a chama do sacrifício..., realizemos os nosso destinos !
Acabando estas palavras, o cometa sacode a sua cabeleira, cobre-se com a sua couraça, e se lança nos espaços infinitos em que parece desaparecer para sempre.
texto extraido do livro "Tratado da Alta Magia - Eliphas Levi
´´e isso ai
até breve.

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